quarta-feira, 30 de maio de 2007

Primeiros Raios

A quem interessar possa,

Depois dos eventos de anteontem, dormi pesadamente durante várias e várias horas um sono sem sonhos, mergulhado numa escuridão profunda, mas calma, sem sentidos e sem temores, como se estivesse vagando para sempre dentro de uma canoa por um lago eterno e estático.
Abri os olhos lentamente e fiquei deitado por mais uns minutos, até que senti vontade de me levantar e descobrir, enfim, o que acontecera ao mundo enquanto eu estive ausente. Caminhei lentamente pelo corredor, desci as escadas e encontrei Lutia e Caius sentados à mesa de madeira, conversando. Ela interrompeu uma frase, foi em minha direção, passou a mão pela minha testa, como fazem as mães com as crianças pequenas e perguntou-me se estava tudo bem.
Lembro precisamente de ter me perguntando por que eles não tinham filhos, mas deixei de lado a questão e respondi que estava me sentindo melhor, mas que queria saber mais sobre o que tinha acontecido. Ela olhou significativamente para Caius, que assentiu com a cabeça e fez gesticulou, indicando que nós nos sentassemos em uma das três cadeiras. Lutia retornou ao seu lugar, diametralmente oposto ao de Caius, e eu me sente do lado dela e em frente a ele.
- Há sete anos atrás, um grupo de uma outra vila, vinda de uma área diferente da nossa, assentou-se no vale que fica a meio dia de viagem daqui. Os homens dessa vila são muito mais bélicos que os nossos, ainda que pertençam ao mesmo povo. Não são nossos irmãos, mas nossos primos. Eles vieram até aqui atrás de nossos recursos, pois apesar do pouco tempo, já criamos um sistema muito eficiente de captação, várias vezes melhor do que o primitivo deles. Em busca desse sistema e do material bruto, ontem, à noite, eles chegaram em nossa vila, levaram barro, madeira, ferro e cereais e mataram nossa guarnição simbólica.
Nesse ponto, Caius fez uma pausa para respirar e pegou em um copo de cerâmica, com um líquido ocre de cheiro forte, e bebeu em um só gole o que havia no recipiente. Pousou o copo novamente na mesa, passou o polegar esquerdo por uma ranhura da madeira bruta e voltou a me olhar, continuando.
- Nós já sabiamos que isso poderia acontecer. Aliás, os dois legionários, Polis e Salito, mortos ontem, - à menção disso, ele fechou os olhos brevemente, então, não tenho certeza se viu quando eu comprimi meus lábios e apertei com força minha mão direita que repousava sobre a mesa - também sabiam que um ataque era uma possibilidade palpável. Nós os enterramos hoje com glórias, apesar das máculas lançadas sobre os corpos deles.
Ao falar isso, Caius levantou-se e andou um pouco na direção da porta, de costas para mim e para Lutia, que também se levantou e se encaminhou para a cozinha. Com a mão estendida em direção a, mas sem tocar nela, ele concluiu dizendo.
- O Herói chegará em alguns minutos. Você pode me acompanhar até à praça do edifício principal, para recepcioná-lo. Acredito que ele virá acompanhado de uma companhia de trinta legionários, trinta pretorianos, trinta imperianos e dez equites caesaris. Isso deve ser o suficiente para refutar os ataques dos habitantes dessa vila de que falei, Jarki.
Juntos, chegamos até a praça central. De relance, espiei o quartel, que tinha um pano branco muito longo estendido pela sua parede lateral e por parte do terreno ao lado. Não vi armas ensangüentadas, cadáveres estendidos ou nada daquilo que pulsava na minha mente sem cessar. Somente o longo pano branco.
Reunidos, estavam mais de trinta homens, quase a metade da população da vila. Não avistei o residente em lugar algum, mas notei uma construção que até então não tinha observado. Uma espécie de castelo miniaturizado, com uma pequena torre, feito de pesadas pedras de granito, muito limpo e vistoso, com uma flâmula amarela pendendo de uma das janelas, o símbolo de uma besta mitológica de duas cabeças, uma de leão, no plano frontal, e outra de cobra, no plano posterior, e de corpo de cavalo, com duas caudas que lembravam as ofídicas.
No momento, devo interromper meus escritos. Em breve, retomarei-os.

Saudações,

2 comentários:

Unknown disse...

Hail,

De fato agora temo pela segurança do Viajante embora saiba, mesmo que de forma imprecisa, que ele desempenhará algum papel importante na contenda.

E qual será a posição do Residente da Vila? Que atitude tomará? Até onde está envolvido?

Saberemos nas próximas semanas.

Anônimo disse...

Vai estudar.