sábado, 24 de fevereiro de 2007

Babel

Músicas - Empilhando novas músicas umas nas outras

Este não é um tópico unicamente da área de música, mas também da internet, mas preferi usar o rótulo de Música por ser este o cerne da questão.

Numa época remota, quando se compravam CDs originais de aniversário para os parentes e em perigosos Amigos Ocultos nas escolas, quando uma pessoa escolhia um novo CD, estava fazendo nada mais que uma aposta.

É de fácil explicação essa aposta: sendo um CD novo, as músicas eram desconhecidas e só se podia fiar pelas opiniões dos amigos e dos meios de comunicação, sendo que nem umas nem outras são de confiabilidade extrema, ou pela credibilidade do artista em questão.

Porém, dez anos ou mais trocaram os dois primeiros dígitos no espaço atrás da segunda barra da data nos cadernos, trouxeram velhos problemas à tona, para logo em seguida afundá-los, e recuperá-los num ciclo de infinita humanidade, e, afinal, mudou tudo no jogo da música.

Agora, comprar um CD é de uma raridade extremada. Os mais hipócritas hão de clamar aos sete outros planetas, e aí está outra coisa que mudou nos últimos anos, que não, na casa dele não existe evidência ou prova de qualquer caminho alternativo para obtenção de músicas.

Oras, nos dias em que vivemos e morremos hoje, não precisamos mais daquela aposta. Navegue-se por seu eMule, por seu Limewire, por seu Shareaza ou pelo Google, e tenha acesso a uma coletânea absurda, dos mais variados tipos, de clássicos imortais na voz do igualmente imortal Blue Eyes ao novo sucesso do Menor de Chapa.

Onde aterrisamos no ponto - ali está você, na frente do seu computador e da sua internet de banda larga, usando o MSN, feliz e contente, ou talvez entediado e irritado, o humor não nos importa agora. Eis que de repente, não mais que de repente, uma janelinha piscante avisa que um dos seus amigos quer conversar com você sobre algo. Diz ele ter baixado algumas músicas do Black Eyes Peas ou do Gabriel, o Pensador, e ter ficado em dúvida quanto à qualidade da composição, ritmo e harmonia, em geral, da mesma, claro está que não nessas palavras.

Mesmo sabendo que está prestes a obter algo que poderia alçar a título de razoável as composições de Latino, você segue e baixa as músicas, talvez as escute, talvez as esqueça no meio da profusão de pastas, atalhos, arquivos e fotos proibidas do seu computador.

Cinco minutos depois, um outro conhecido lhe chama a atenção - o jovem mancebo leu no Terra que saiu um CD com uma coletânea de canções do Jack Johnson. Lá vai você abrir seu acelerador de downloads com sigla esquisita, DAP, IDM, DMP, o que for, procura, encontra e baixa com eficácia doze ou catorze, ou quatorze se preferir, músicas do nosso camarada Jack.

Não importa o cantor ou banda, o estilo, a língua, se der, você vai baixar. Desta maneira quase caótica, quase sistemática, forma-se um verdadeiro lixão, um depósito de músicas no seu tocador de mídia, com seiscentos e sessenta e sete canções e quarenta e uma horas somadas de gravação.

No dia em que as janelas de uma casa forem construídas antes das paredes você vai escutá-las todas. Enqüanto isso, gotta catch'em all, folks. Já que está à disposição, quanto mais melhor. Ironicamente, é o instinto da época das cavernas e da comida escassa, mas, à essa altura, todos estamos fartos de saber que ironia é do que a vida é feita.