terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Sete....


[Agora, em resposta àquele.... coisa idiota, maldição de uma fada.... Mentira, eu gosto dessas coisas.

*7 coisas que eu tenho que fazer antes de morrer...

- Aprender a tocar o teclado como um virtuose [Vai acontecer um dia... por osmose, talvez.]
- Aprender a fazer mágicas realmente prodigiosas [Não deve ser tão difícil...]
- Aprender mais seis línguas e meia, sendo uma da família árabe, além de italiano, francês, alemão, japonês e chinês. [A meia é espanhol.]
- Escrever um livro do qual eu me orgulhe. [De preferência, com uma teoria realmente impressionante.]
- Ler todos os clássicos que já foram escritos. [Até o "Geometria", do Euclides.]
- Criar uma nova tecnologia que cause o menor impacto possível no meio ambiente. [Isso é ambição de carreira.]
- Discursar de forma a receber aplausos vigorosos quando terminar. [Quem sabe de tanto assistir, eu aprenda do Mr. 0.]

*7 coisas que mais digo...

- "Se tem uma coisa que eu odeio..." [Várias vezes ao dia.]
- "Baka..." [Muitas e muitas vezes.]
- "Isso não vai prestar..." [Nunca comigo, sempre quando alguém está prestes a fazer besteira.]
- "Eu confio no meu taco." [Seguido por um sorriso de presunção.]
- "Interesting..." [Quando alguma coisa que eu faço não dá exatamente certo.]
- "De qualquer forma, ..." [Mudo muito de assunto.]
- "Ai, meu coração..." [Toda vez que leio/ouço um erro escabroso de português... nada raro.]

*7 coisas que eu faço bem...

- Escrever. [Olhem lá em cima.]
- Dormir. [Em qualquer lugar.]
- Analisar situações. [De preferência, sem seguir o meu próprio conselho.]
- Ignorar completamente o que se passa ao meu redor. [Não é tão difícil.]
- Esquecer. [Pergunte à mamãe.]
- Comentários sobre estranhos. [Olha aquele cara.]
- Ser [sneak attack!] estranho.

*7 coisas que eu não faço

- Beber líquidos alcóolicos. [Não gosto do gosto.]
- Fumar. [Ainda não entendi a graça.]
- Seguir a opinião de outras pessoas por necessitar da aprovação delas [Não entendi o objetivo.]
- Ouvir pessoas idiotas falando. [Não entendi a vantagem.]
- Guardar ressentimentos por mais de uma semana. [Não entendi o motivo.]
- Ser modesto. [Não entendi.]
- Acreditar facilmente que alguém é realmente inteligente. ["Intelligent? Are you? Amaze me..."]

*7 coisas que me encantam...

- Gatos ["Gatinho!"]
- Olhos
- Pessoas inteligentes
- Pessoas sarcásticas
- Pessoas irônicas
- Matemática
- Filosofia

*7 coisas que eu odeio

- Pessoas ignorantes que se acham inteligentes [Existem aos montes.]
- Pessoas inteligentes que são modestas falsamente [Entre os inteligentes, são maioria.]
- Pessoas idiotas que agem como idiotas [Olhe pela janela... pronto, você já viu mais dessa espécie do que os dois tipos acima.]
- Pessoas que dizem que sabem de algo sem saber [Soma todos os três anteriores.]
- Pessoas que falam à minha volta enquanto tento ler
- Pessoas que só falam de si mesmas [Oh, coitadinha de mim...]
- Pessoas que não falam de si mesmas [Irritantes...]

[Engraçado... no final, I'm a people's person.]

domingo, 28 de janeiro de 2007

Capítulo Um

[De acordo com o acordo, meu post tem a ver com o dele. Na próxima, o dele vai ter que se ver com o meu, ou fica de castigo.]

Esse é o único texto que eu escrevi de que tenho realmente orgulho... mas perdi a inspiração porque fiquei tempo demais sem pensar nele. Acontece.

***

Capítulo I

O homem que morrera três vezes cruzava os portões maciços da cidade. Apenas corvos observavam a figura solene e imponente parada diante do portal principal, feito de mármore enegrecido pela poeira de séculos. Já fazia alguns ciclos desde a última vez que ele olhara para a estatueta envelhecida em forma de crânio de dragão que ornamentava a entrada do lugar muitas vezes amaldiçoado.

Contraiu nervosamente os dedos de sua mão esquerda. “Essa estátua continua aqui, como sempre. Como um sinal do que...”. Teve seu pensamento interrompido por um grito lacerante. Por reflexo, virou-se com a agilidade de um felino arisco, empunhando sua alabarda, ou o que restara dela, o cabo entortado por causa da batalha feroz contra uma estátua animada de um deus esquecido, o metal enferrujado de sangue de inocentes e de tiranos, o fio perdido há muito tempo.

Porém, como já esperava inconscientemente, não viu nada exceto a escuridão perversa, silenciosa como um caçador que espera pacientemente uma indecisão de sua presa. Não conteve um riso abafado. Riso o qual saiu com gosto amargo, sem alegria, mas com pesar. Não havia espaço para sentimentos nesse lugar.

Na verdade, não havia espaço para esse tipo de tolice em lugar algum. A diferença era que em qualquer outro local, isso poderia gerar uma humilhação. Aqui, as conseqüências iriam um pouco mais além do que um comum esperaria. Mas quem faz a visita pela terceira vez, já não é tão ingênuo. Ou feliz, segundo muitos.

Com um passo lento e arrastado, seguiu como um peão pelo tabuleiro de xadrez. Sempre avançando, na linha de frente, enfrentando o perigo e sendo sacrificado por quem tinha o poder. Uma peça cega. Dispensável. Como fora, por inúmeras vezes.

Todavia, isso já não mais importava. Na verdade, nunca importara. Nunca se dera o luxo de pensar em si como vítima. Era o que era porque queria, porque tinha que ser. Não havia tempo para refletir ou para divagar. Nunca fora forçado a seguir o rumo que escolheu quando pequeno. Sempre gostou de se ver como senhor de seu destino. Uma ilusão barata, mas eficaz.

Os olhos, acostumados com as tonalidades sombrias da noite, foram cegados pelos primeiros raios de luz da aurora. Daquele ponto já podia divisar a ruína da torre leste do palácio que dominava a paisagem da cidade. Olhava, mas não via. Sua mente ia longe, para tempos remotos onde ainda brincava munido de gravetos com seus amigos. Nunca havia parado para pensar sobre isso. Logo, esqueceu as memórias inúteis e seguiu em frente. Atrasar-se não seria visto com agrado.

Na verdade, cidade era mais uma forma de expressão do que uma atestação da realidade. Só havia uma moradia num raio de quilômetros, o palácio central. As ruas eram ladeadas por árvores que podiam muito bem ser consideradas mortas, pois não tinham folhas e a aparência seca e retorcida era impressionante. A um olhar mais atento, porém, mostravam sinais de que havia vida e, mais surpreendente ainda, consciência ali. Os galhos baixavam lentamente em direção ao caminho que se estendia até a entrada lateral da grande construção. Cada passo era precedido por estalos e silvos, que causavam uma péssima sensação de estar sendo vigiado.

Andando pelo caminho formado por pedras mal encaixadas, com mato acinzentado crescendo entre as junções, olhou para a linha do horizonte avermelhada pelo amanhecer pela primeira vez em algumas semanas. As viagens pelos túneis do sul eram enriquecedoras, porém sempre acarretavam males incômodos. “Cada entrada diminuía mais a distância em relação ao inevitável.” dizia uma velha canção que ouvira nos portos outrora iluminados de sua cidade natal.

A tênue luz da manhã já o irritava. Não só pela sensibilidade ampliada. Também contava o fato de lembrar-lhe a razão dele estar nesta H’ishmen. Como se atravessasse um sonho ruim, empurrou a pesada porta de carvalho e seguiu pelos salões principais do Uno. “Uno, nome ridículo” pensou, sem se importar com a possibilidade real de que percebessem o que passava por sua mente.

Seus passos ecoavam pelos aposentos à medida que os atravessava. Uma leve camada de poeira cobria os candelabros que iluminavam precariamente o caminho. O piso feito de um mosaico de materiais refinados de diferentes locais formava imagens de reis suntuosos e épocas gloriosas.

Ao dar por si, estava diante do segundo-ministro. Um dragão do ar que gostava de se apresentar como um velho encurvado de longos bigodes brancos, sem barba, com uma túnica impecavelmente alva. Consultando o velho relógio construído por encomenda a Primus, o Primeiro e o Único, este olhou-o com sagacidade jovial e perguntou o motivo do atraso inconveniente.

- Não me parece que algo de importância menor vem ao caso de um segundo-ministro, que dirá de um ex-servo de lordes macabros.

- A mesma descortesia de sempre, jovem petulante.

- A mesma enrolação de sempre, velho.

- De qualquer forma, entre que Ancar lhe aguarda.

Com um rápido movimento, o segundo-ministro girou a tranca da porta de mogno sólido e fez um sinal para que o guerreiro a sua frente entrasse. Nesse momento, sentiu um calafrio, como se algo estivesse para acontecer, o início de alguma coisa grande que estava por vir. Sendo uma pessoa fria e calculista, concentrou-se na sua função, ignorou completamente essa sensação ridícula e adiantou-se dois passos, abrindo caminho para que enfim a reunião começasse.

Em atitude veementemente ameaçadora, o guerreiro fez menção de alcançar sua alabarda, como se quisesse começar ali mesmo uma batalha. No entanto, como uma nuvem que, por instantes, cobre o sol e impede que se fique ofuscado, a razão dominou a mente de ambos e tanto o guerreiro como o segundo-ministro agiram como se esperava e entraram enfim no salão de conferências.

***

domingo, 21 de janeiro de 2007

O Abismo do Meio


Uma vez, há um tempo, estava eu conversando com um religioso católico. Ele me falava de muitas coisas da Igreja e do Reino dos Céus. Em um dado momento, resolvi saciar uma antiga curiosidade minha: qual dos sete pecados capitais era o mais perigoso, o que devia ser evitado a todo custo.

Eu acreditava que era a inveja, que motiva tantos crimes e traições, injúrias e atos excusos... o monstro dos olhos verdes que se alimenta daquele ressentimento lento e fétido, que se acumula a cada dia, a cada gota, dentro de nós, até o momento em que nos cega.

No entanto, esse religioso me respondeu que a inveja era, sim, terrível, mas existia outro pecado ainda mais hediondo: a soberba, ou o orgulho.

"Esse foi o pecado dos fariseus, que condenaram Cristo." disse ele. Prosseguiu explicando que não é que eles fosse malignos, não eram. Por não cometerem atos reprováveis, os fariseus viam a si mesmos como melhores do que o resto, acima das demais ovelhas.

Isso me lembrou de outra coisa. "Não ser tolo não significa ser sábio; não ser feio não significa ser belo; não ser mau não significa ser bom." Platão - Banquete.

A verdade é que, como ele disse, não basta não praticar atos vis... há que se fazer coisas boas também. Mas esse não é o propósito pelo qual eu escrevo.

Quando Lúcifer desejou para si o poder de Deus, ele convenceu 1/3 das falanges a lutarem ao seu lado. O final da história, todo mundo conhece. Lúcifer foi derrotado e expulso dos céus, junto com seus comparsas. Há, porém, um trecho desse tempo antes do tempo que pouca gente se lembra ou conhece.

Os anjos, no céu, não ficaram divididos apenas em seguidores de Lúcifer e os fiéis a Deus Todo-Poderoso. Havia também um terceiro grupo, os neutros. Eles decidiram não apoiar nem um lado nem o outro. Quando Deus frustrou os planos ensandecidos do antigo Portador da Luz, Ele não só puniu os anjos decaídos, mas também os que decidiram se abster.

Embora isto possa surpreender alguns, a lógica é simples: na escolha entre o certo e o errado, eles se mantiveram calados. Oras, ainda que isso não os torne maus, também não os torna bons. E o céu é a moradia eterna dos bem-aventurados, que tem o coração repleto de bondade.

A neutralidade é apenas uma maneira de fugir da verdade. Alguém verdadeiramente justo posiciona-se sempre, em todas as questões, de maneira justa. Obviamente, isso não significa saltar a conclusões precipitadas antes de ouvir os dois lados, ou procurar conhecer os fatos, mas, uma vez que informações o suficiente sejam conseguidas, determinar sua visão e, não só isso, externá-la.

Porque de boas intenções...

Não é mínimo o número de pessoas que discordam veementemente disso. O argumento principal e razoável é que ninguém tem moral e capacidade para determinar o quê é verdadeiramente justo ou bom para todos os casos.

Digam o que quiserem, eu não me importo, ninguém me tira a certeza de que todos sabem exatamente o que é certo e o que é errado. Todo ladrão sabe que está fazendo algo ruim. Ainda que tenha uma justificativa genuína, o ato em si é mal. E todos sabem que ignorar alguém que pede ajuda é uma falha de caráter e que permanecer calado enquanto alguém sofre uma injustiça é simplesmente errado.

Então, não matar estranhos por aí, chutar animais ou roubar uma coca-cola no mercado da esquina não o torna bom. E não procurar tirar vantagens ilícitas no trabalho ou nunca falar mentiras que prejudiquem os outros não o torna justo. No máximo, neutro. E quem é neutro não tem lugar entre os maus... e tampouco entre os bons.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Menos do Mesmo

[Acho que gostei de usar imagens e colchetes no início do que escrevo. Prova da influência do #0, integrante da Troubleshooter.com.]


O tema do que escrevo hoje é, talvez, um pouco presunçoso, mas preciso de um jeito ou de outro. O que torna uma poesia ou poema bom nos dias de hoje?

Não é uma pergunta simples, na verdade, visto que os gostos de aproximadamente seis bilhões e meio de co-habitantes do nosso planeta não podem ser resumidos em três ou quatro parágrafos.

Ainda assim, podemos ter uma idéia, ainda que superficial, da causa que provoca o descarte de centenas de poemas escritos por aspirantes a Neruda ou Coralina todos os dias e que poupa apenas um ou outro da seca e pura obliteração.

Repudia-se, de início, a temática como causa. Poemas de amor, de intriga, de adoração à natureza, sobre o cotidiano e a vida no campo ou na cidade, sobre o milagre do nascimento ou o terror da morte existem há literalmente séculos e nunca deixaram de ser populares. Obviamente, será difícil encontrar um poema dedicado às pulgas da areia que seja um sucesso aclamado de público e crítica, mas, quem sabe? Se você realmente ama essas criaturas, vá em frente e escreva seu épico tão idealizado sobre a jornada de uma delas de volta para sua ilha natal, que dura dez anos, após uma guerra de iguais dez anos... Hummm... acho que já vi esse enredo antes... melhor mudar isso, amigo.

Poderia seguir analisando outros pontos, como formato e quantidade de palavras ou versos, mas esses devem ser igualmente relevados dada a natureza multíplice dos poemas e poesias.

Só resta então algo um tanto óbvio, mas em geral negligenciado: a originalidade, não da forma, mas do conteúdo. Sim, é lógico, como eu disse, mas aparentemente poucas pessoas se lembram disso. E novamente, não é à temática que me refiro. Meu objeto de pesquisa são as palavras e expressões lingüísticas em si.

"Torre sombria", "lábios doces como o mel", "olhos com estrelas", "sol do meu jardim", "olhos cruéis"... o que todas essas expressões têm em comum? Já foram vistas mil vezes e mais uma... cada uma delas já apareceu em dezenas de poemas e poesias desde as horas anteriores à primeira noite. E esses são apenas alguns poucos exemplos de que posso me lembrar em cinco, dez segundos de pensamento. Com um pouco mais de esforço, é possível inclusive criar um catálogo com essas expressões capaz de rivalizar em tamanho com a Bíblia.

Um poema que as utilize talvez, com muita sorte, boa vontade, público idiota e compensação em outros versos, possa chegar a ser tido como "bom". Mas não espere muito mais que isso, a não ser que seja objetivo explícito usá-los de alguma forma inovadora no contexto.

Essas metáforas revisitadas tantas vezes acabam destruindo uma poesia, independente da qualidade da história. O pior de tudo é que a impressão causada por elas, de falta de criatividade e originalidade, acaba determinando o fracasso posterior de futuras tentativas.

Portanto, se eu pudesse aconselhar alguém, seria assim: Pense bastante ao escrever cada verso. Releia seu poema e procure substitutos interessantes para as expressões que você acredita já terem sido usadas por outras pessoas várias vezes [algumas poucas vezes não faz tão mal]. Procure criar um estilo próprio, ainda que baseado numa combinação do estilo de outros poetas e poetisas. Tente surpreender com analogias inesperadas, mas ainda assim contundentes. A prática leva à melhora, então escreva sempre que puder, quando lhe vier uma inspiração especial.


Good luck and namasté!

domingo, 7 de janeiro de 2007

No pain, no gain

[Ocorreu-me que textos ficam mais decentes com uma figura... então...]

Eu tentei me lembrar da expressão correspondente em português, mas não fui capaz de pensar em nada.

Ao assunto principal, então...

Uma das coisas mais importantes que a minha mãe me ensinou, ao meu ver, é esse conceito. Sem suor, não se consegue nada. Sem esforço, não há ganho.

Simples, como todo bom conselho deve ser... exceto que, aparentemente, muitas pessoas sãosimplesmente inaptas a compreender este complexo e misterioso conceito.

Milhares e milhares de seres humanos estão, neste exato momento, olhando para os céus, para um altar, para o chão, para o raio que lhes parta, pergunta, ó dor, por quê eles não têm o que merecem, por quê os poderes superiores não os ajudam, em uma atitude desesperada e patética.

Por que será, Deus, que eu não ganhei na loteria, tendo rezado para isso toda noite, antes de dormir? Por quê, universo, não captei as boas vibrações e quem recebeu a promoção para gerente foi aquele babaca antipático? Por quê, em nome de tudo que é mais sagrado, eu não tenho sucesso no que faço?

A resposta poderia muito bem vir nesse provérbio inglês, no pain, no gain. Muita gente parece querer apenas esperar que dinheiro, glória e um pouco de vodka caiam dos céus a qualquer momento. E enquanto não caem, reclamam aos cinco ventos e para o incauto passante que calhar de escutar que o mundo é injusto.

Reclamam, reclamam... mas não se movem. Não agem para mudar nada. Só esperam, como moscas aguardando o momento de morrerem no monte de podridão em que pousam eternamente. Insetos doentios, ridículos, sem significado ou razão de ser e existir, um erro na ordem natural do caos.

A culpa por uma falha não é, principalmente, de mais ninguém senão da pessoa que falhou. Nisso, eu acredito firmemente. Os culpados da derrota são os vencidos.

É verdade que, às vezes, imprevistos acontecem e inúteis recebem recompensas imerecidas? Sim, é. É justo que existam pessoas que trabalham a vida inteira apenas para serem enterradas em uma cova rasa, sem jazigo, sem lápide, sem flor? Não é justo, mas é o que acontece. Então, onde entra o provérbio nessas horas?

Acontece que ninguém disse que a vida é justa no sentido humano da palavra. Acasos acontecem e "injustiças" ocorrem. Mas não são a regra.

À sua frente está uma máquina mágica de dinheiro. Ela funciona da seguinte forma: o botão da direita, vermelho e chamativo, recompensa quem o aperta com R$ 10.000,00 uma a cada mil vezes. O da esquerda, cinza e comum, recompensa com R$ 150,00 quem o pressiona setenta e nove a cada oitenta vezes. Você só poderá usar a máquina cinco vezes... qual escolha vai fazer?

Metáfora simplória, admito, mas acredito que eficiente para o propósito da explicação. Pode-se tentar a sorte grande... você tem 0,5 % de chance de receber R$ 10.000,00 se tentar cinco vezes o botão vermelho. Mas se forem no cinza, aproximadamente 188 de cada 200 pessoas [94%] receberão R$ 750,00 ao confiarem nele.

Resultado garantido é o esforço, mesmo que seja apenas a lição para a próxima tentativa. Já esperar... bem, você vai ter bastante gente pra concordar que a vida não é justa e que vocês nunca ganharam o que deveriam pelo tanto que fizeram... Sua opção.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

A Criança e o Velho

- Eu não bebo. Beber é ruim. Deixa as pessoas fora de si. E ficar fora de si é ruim. Porque se fosse pra ficar fora de si, então você não era você mesmo. Era você fora de si.
- Então, decerto tomou café demais.
-
Eu não tomei café hoje. Não, tomei de manhã. Café com leite. Eu gosto bastante de tomar café com leite de manhã. Mas só tomo quando estou em Petrópolis. E gosto de tomar na velocidade certa. Não gosto que me apressem. Não acho que café da manhã seja algo que deva ser apressado. Acho que nada deveria ser apressado. As coisas têm uma velocidade normal. Normal é porque é normal. Se não é normal, então deveria ser. Normal é certo. Não é normal, não é certo. A velocidade certa é a normal. Normal, normal. Você deve estar estranhando. Eu ia achar estranho se você começasse a escrever desse jeito de repente. Mas eu gosto. É diferente. Acho que nunca escrevi assim. Não, acho que nunca. Você já escreveu assim? É divertido.
-
Não creio que tenha escrito assim alguma vez, e se de fato assim escrevi, de forma alguma apreciei. Tanto é que nem lembro-me. Decerto, você está encarnando um personagem em seu modo de escrever, o que parece ser divertido. Porém, pergunto-me se isso é apenas em minha janela ou se você assim está com todos em sua lista de contatos.
-
Só estou falando com você. E escrevendo um e-mail. E estou escrevendo um e-mail assim também. E você me assustou. Porque parece que a pessoa pra quem eu estou escrevendo um e-mail não vai gostar. E eu não quero que ela não goste. Eu gosto dela. Você escreveu como gente séria. Gente séria escreve as coisas séria. E não gosto de escrever as coisas sério. Eu só escrevo as coisas sério quando estou de mal humor. Eu gosto de escrever as coisas sorrindo. É porque eu gosto de escrever. Eu tô ficando assustado comigo mesmo. É estranho ler o que eu acabei de escrever. Parece até outra pessoa escrevendo. Mas eu gosto. De alguma forma. Eu não sei explicar. Tem coisas que não dá pra explicar. Quando eu era pequeno, eu gostava da palavra culpa. Ela tinha um som engraçado. Ainda tem. Ela não mudou. E gostava de ficar pensando a culpa é da culpa. A minha vó dizia isso quando eu e meu irmão brigávamos. Dizia que a culpa não era de ninguém, era da culpa. Eu gostava disso. Era ela que falava ou eu que pensava? Eu não lembro direito.
-
Se você escreve sorrindo é algo que diz respeito apenas aos seus musculos faciais, pois de modo algum posso vê-lo sorrindo enquanto escreve, tampouco posso ver as palavras sorrindo. Presumo que esteja escrevendo esse e-mail à sua respectiva , não? Àquela em que você deposita seus pensamentos e sentimentos, a quem você encomendará seus últimos pensamentos caso morra de forma trágica. Acabo de começar a encarnar o meu personagem, alguém que sempre com raiva escreve e por isso escreve com discurso empolado. Embora obviamente não seja nada comparado ao seu frenesi estilistico.
-
Eu percebi. Você tá com raiva da forma que eu tô escrevendo. Você quer que eu pare? Eu não vou conseguir parar. Eu posso voltar a falar com você amanhã. Vai parar quando eu dormir, eu acho. Eu vou dormir mais tarde. Eu gosto de dormir mais tarde quando estou aqui. Você me lembrou o estilo do Machado de Assis. Ele é legal. Eu gosto dos livros deles. Não sei por que as outras pessoas não gostam. Aliás, sei. Elas não gostam porque é pesado. Mas é legal. É diferente. Ele era inteligente. Muito inteligente.
-
De forma alguma estou com raiva de você, meu nobre colega, apenas resolvi encarnar um personagem oposto àquele que você incorporou nessa noite. Algo oposto de todo , porém sem ser adversário nem inimigo. No fim, apenas um exercício estilístico.
-
Eu não gosto dessa forma que você escreve. Você escreve como se estivesse rasgando o papel. O papel é bonzinho. Ele não quer ser rasgado. Ele fica triste. Agora eu me assustei de verdade. Essa mensagem foi estranha de verdade. Estou regredindo ainda mais, não estou? Pareço que estou. É estranho. Mas eu gosto.
-
Escrevo minhas palavras em pergaminhos amassados pelo tempo, com pena e tinta, guiado pelo lumiar do meu fiel candeeiro noturno que me orienta nas madrugadas solenes enquanto me dedico aos meus passatempos reprimíveis. Escrevo como quem talha um bloco de pedra desejando ao mesmo tempo que suas palavras sejam guardadas para sempre e que jamais sejam apagadas intencionalmente por ninguém.
-
Eu acho que você acha que eu estou forçando esse estilo. Não estou. É estranho. Eu acho que não consigo escrever de outra forma. Mentira. Consigo, sim. Mas vai sair artificial. E isso é ruim. Tem que ser natural. Tem que fluir. Fluir, fluir. Eu gostava de fazer barquinhos de papel. Gostava de jogá-los no rio. Imaginava uma corrida mundial, e o meu barquinho ultrapassava as folhas e as pedras.
-
Mas escolho precipitadamente minha tabula rasa, escolho uma muito fraca de constituição frágil que não suporta o peso do que se escreve. Não acho que esteja forçando. EU estou.
-
Você é velho. Muito velho. Você é o tempo? Não. O tempo não é velho. As pessoas acham que o tempo é velho. Mas ele não é, não. Ele é uma criança. Ele gosta de brincar. Ele brinca com as coisas. Não é estranho forçar o estilo? Eu acho estranho. Eu não gosto. Eu canso.
-
O tempo não tem tempo. O tempo precede o tempo. Apenas nos cansamos daquilo que não estamos acostumados a fazer. Quando nos acostumamos, sai fluente como se sempre estivéssemos propostos a fazê-lo.
-
Não acho. Acho que cansamos do que é chato. Forçar o estilo é chato. Muito chato. É mais chato do que esperar sua mensagem chegar. Demora muito pra sua mensagem chegar. Queria poder ler ela logo. Você escreve devagar? Não, acho que demora pouco em relação aos outros. O tempo é engraçado. As pessoas têm medo dele. As pessoas têm medo de um monte de coisas. Um montão. Por que as pessoas vivem com medo? Elas deviam gostar de viver. Elas têm medo de viver, por que têm medo de morrer?
-
Acho que sua mente que faz com que a enxergue devagar com relação aos seus próprios pensamentos. A diferença básica entre nossos estilos eleitos é que você se dedica ao curso fluente do pensar enquanto eu me detenho algumas linhas sobre um momento.
-
Pensar como criança traz perguntas interessantes. Eu gostei dessa última mensagem. Ela saiu como algo que eu não escreveria normalmente. Eu não escrevo assim. Mas ficou bom. Você gostou?
-
As pessoas têm medo sobre não ter medo. Acham que para viver suas vidas de forma medíocre (que é a melhor para elas, de todo modo), precisam temer algo, mesmo que não entendam o que temem.
-
Você gosta de escolher as palavras? Eu gosto de escolher as palavras. Eu não estou escolhendo-as agora, mas eu gosto. Eu gosto de usar palavras bonitas. Têm palavras bonitas. Mas as pessoas não conhecem muitas palavras bonitas. Elas usam palavras chatas.
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Seu estilo de escrever me lembra dos loucos que não conseguem estruturar nem a si mesmos nem ao que falam.
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Medíocre. Medíocre. Eu não gosto de medíocre. Eu não gosto de mediano. É ruim.
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Sempre escolho as palavras, mas, faço isso em tempo muito reduzido sendo que faço de modo a que ninguém percebe.
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Eu sou Delírio. Dos Perpétuos. Eu gosto dela. Mas não gosto mais dela do que do Destino. E gosto da Desespero. Ela é um bom personagem. E bem descrito. E bem desenhado. Mas a Delírio tem o corpo de texto mais bem feito. É diferente. Ela fala como os loucos. As letras passam a impressão de que ela não pensa como as pessoas pensam.
-
(É extremamente difícil escrever assim para quem não observa as normas gramaticais do Português, creia-me.)
-
Eu acredito em você. Eu sempre acredito em você. Eu confio em você. Você é igual a mim. Não, você é semelhante a mim. Nós não somos iguais. Você é maior. É mais velho. Eu não sou grande. As pessoas dizem que eu sou grande, mas eu não sou. Eu sou pequeno. Eu não sou velho. Um garoto me disse semana passada que eu era velho quando eu perguntei se eu era velho ou novo. Eu achei estranho. Eu ri, mas achei estranho. Eu acho que prefiro ser novo. Você aprende mais coisas quando é novo do que quando é velho. Eu acho. Eu não sou velho, eu não sei.
-
Mesmo sendo maior que eu, permanesce menor que eu, meu amiguinho. É um dos mistérios dessa coisa magnífica que apelidamos de vida. Essa coisa inominável que tentamos compreender a cada dia da existência, de nosso perpétuo enquanto dura aion. Acho que viraremos a noite, não? Não acredito que teremos tempo de dormir hoje.
-
Eu acho. Eu não sei. Eu não tô com sono. Você tá com sono? Meu irmão vai brigar comigo. Vai dizer que eu fiz de propósito. E vai contar pra minha mãe. Mas eu não faço de propósito. Mentira. Às vezes, eu faço de propósito. Mas não é sempre. Eu gosta da vida. Você gosta da vida? Ela é legal. Ela é diferente. Mamãe disse que foi Papai do Céu que deu a vida pra gente. Papai do Céu sempre é legal comigo. Ele sempre me diz o quê eu tenho que fazer. Eu acho que ele gosta muito de mim. Você gosta do Papai do Céu? Eu gosto muito dele.
-
Acho terrível essa denominação, pois assim presume-se que se ele é pai do céu, outra pessoa é pai da terra. Assim sendo, estamos todos nos enganando.

O som das palavras vai ficando cada vez mais distante, mais fraco... até que, por fim, só resta a dúvida se realmente aconteceu alguma coisa ou se foi apenas um sonho.

Cortesia do Troubleshooter #0, parte da Troubleshooter.com