sábado, 3 de novembro de 2007

Letra e Ritmo

[Now playing: Jack Johnson - Banana Pancakes
via FoxyTunes

Não me julguem! O quê, não posso ouvir uma coisa sem uma letra profunda de vez em quando?]

O título vem de um filme com o Hugh Grant, muito bobo e, diga-se de passagem, alguém precisa falar pro Hugh que ele tem, de fato, um charme inglês, mas que os personagens deles são todos iguais e que isso cansa. É ou não é?

Uma pessoa pode gostar de uma música por alguns fatores intrínsecos ao ser humano. Não posso aqui elencá-los todos, mas posso analisar alguns.

O primeiro fator, o mais abstrato de todos e menos compreensível, pode ser resumido em uma palavra geral: energia. Existe alguma ligação de grau inferior ou superior que está um pouco além do alcance da ciência de nosso tempo [talvez sempre estará] que indica se você é afinado com a tal música ou não. Pode até ser de uma banda com a qual você não tenha total simpatia. Por exemplo, Los Hermanos. Com essa, eu tenho pouca ou nenhuma conexão, mas, ainda assim, admito que me fascinei pela letra de uma das músicas deles. Qual? Pratiquem sua mantéia.

Tirando esse elemento sobre o qual não posso falar realmente, temendo que minha capacidade de análise não chegue a tanto, passamos às duas causas principais pelas quais uma pessoa pode gostar de uma música: ritmo e letra.

O ritmo é a melodia, a batida, a maneira como o cantor pronuncia ou deixa de pronunciar sílabas e palavras. Ele tem um papel primordial porque é dele que você vai se lembrar em primeiro, de uma forma bem mais instintiva do que qualquer coisa. Até os desprovidos de talento musical, eu primeiro da fila, conseguem murmurar ou batucar alguns acordes de canções que acabaram de ouvir e que nunca antes tinha escutado, seja um Bolero de Ravel ou um Mantra.

Opostamente [talvez seja sábio lembrar-me de como é comum dividir a maioria das coisas em opostos... Aristóteles comentou algo sobre isso], pode ser a letra a lhe enfeitiçar. Certos artistas têm o dom de colocar em palavras, simples ou ornadas, sentimentos. Uma verdadeira transmutação alquímica, acredito eu, um correlato com os pintores que lançam em suas telas o terror e a surpresa, por exemplo. Claro, isso não é exclusividade da letra, o ritmo também o faz, mas, quando não se tem a habilidade musical, às vezes, é mais fácil compreender e fazer entender uma música pelas palavras do que pelos sons quase abstratos. Além disso, talvez você seja um dos que se enamorem de uma construção gramatical em específico, da utilização desta ou daquela característica de sintaxe. Ou, por último, você simplesmente lê [ou escuta] a letra e acha que ela passa uma mensagem competente [não precisa sequer ser boa].

Existem músicas que o fisgam pelos dois. São músicas especiais, concebidas sob condições variadas, sem aparente nenhuma ligação [acredito que deva haver uma, não a conheço]. No Brasil, Vinícius, Tom, Chico, Gil, Caetano e Milton são alguns dos que já fizeram uma dessas.

Não é necessário que a música tenha todos os elementos em grau de excelência. Às vezes, você quer apenas o ritmo. Outras vezes, a letra se sobressai à melodia. Não existe melhor ou pior aqui. De fato, com uma ponta de derrota, admito que é questão de gosto.

Como última nota, convém comentar que o ritmo é um canal mais poderoso de emoções. Essa é a razão pela qual as músicas clássicas são colocadas em um patamar tão elevado. Posso soar elitista, mas nem todos conseguem compreender isso e, sim, isso representa que algumas pessoas são piores do que as outras nisso e, em específico, nisso. A lei do equilíbrio universal dita que, no final das contas, somando-se as habilidades e faltas das mesmas, todos são similares.

[Now playing: Yoko Kanno - Call Me Call Me
via FoxyTunes ]

Um comentário:

Anônimo disse...

Sinestesia


Isso que move os verdadeiros ouvintes.